18 de dezembro de 2008

Devaneio do dia ou da noite?

Detalhes






Depois daquela última conversa sobre à mesa , a caneca ficou ali estática me olhando, em um tom ríspido quase me repreendendo.Apegada ao nada ali sozinha , pensei nos detalhes. Voando longe para longe...Lembrei de quando pequena eu gostava de olhar as mãos das pessoas, admirando formatos, texturas e tendências, eu gostava de olhar meus pés indo e vindo na balança do parque.

Fiquei olhando à caneca, continuo a mesma, me encontrando nos detalhes alheios.
Porque eu gosto tanto de detalhes, pequenas ações ... perfumes.
Acabo me apegando aos detalhes, muitas vezes eles tornam-se mais importantes para mim, que as próprias pessoas, é através deles que nos tornamos essenciais, estes detalhes fazem com que nunca eu consiga me esquecer de ninguém, que passa por mim...são os detalhes que me deixam de presente e que me fazem tanta falta...como o cheiro que vinha dos bolinhos de chuva banhados na canela, nas tardes da minha infância..
As pessoas se vão...e seus detalhes ficam impregnados em mim...então fico ali chorosa morrendo por dentro.
Na realidade ando tão desonesta comigo ultimamente,talvez a caneca tenha percebido isto, o que sou hoje, uma "ativista" do nada, que romanceia o absurdo, para adormecer entre lágrimas.
Somos tão inacreditáveis...vivemos a forma que achamos e não da forma que deveria ser...
Lembrei ao lado da caneca anarquista, protuberante olhando para mim, que eu já ousei respirar um dia, com um algodão doce azul em minha mão.Sinto pena desta forma de gente que não se apega à devaneios, não são passionais...não se mostram.
Outro dia falaram de meu tom confessional, falaram de minha evolução e de minha essência.
Será que dá para arrancar a minha essência e colocar normalidade no lugar?Será?
Teve um poeta que disse, que preciso deixar algo verdadeiro para o mundo...me senti tão só ali...porque não tenho nada para deixar, não sou feita de nada...porque de "tudo" falta em mim...Fico sempre a juntar meus detalhes nestas folhas cúmplices do meu vazio.
Ele disse que eu era criança, o que não percebeu, é que cada um se defende com as armas que possui, eu semeio flores que dançam e que possuem poder cicatrizante.
Sempre gostei do pequeno, sempre gostei de detalhes, porque crianças encontram o tudo no pouco.
Os detalhes se mostram sozinhos preenchendo sonhos e deixando muita saudade!
E assim palavra alguma precisa ser dita.As vezes, é possível dizer tanta coisa em silêncio.
Amne

Um comentário:

líria porto disse...

a caneca
líria porto

todo dia sirvo alguém
café com leite bem cedo
à tarde um chá quentinho
chega a noite
uma canseira

(tratam-me com carinho
porém me prendem no armário)

eu tenho só uma asa
se fossem duas arriscava
imitava um passarinho
e vez em quando
avoava

*