10 de fevereiro de 2011

Sem choro nem vela!


Estes dias parei para me consolar num samba
Que meu avô cantou pra mim assim:
“Quando eu morrer não quero choro nem vela
Eu quero uma fita amarela gravada com nome dela...”
E pasmem,
Hoje em dia a gente pouco chora nossos mortos
Por não ter tempo, nem fita amarela, nem amor contido

Ele bem que me disse
Que não queria nem choro nem vela.
Então, em respeito ao morto
Conti meu choro em sua homenagem
Pois a vida passa num suspiro de tempo
E o que sobra são as sobras de algum samba antigo
Que alguém canta findando o dia...

Velhos objetos em uma casa velha vazia
De gente
De história
E de som.

Fico aqui fitando o que passou nesta nossa (minha e dele)
Falta de história conjunta
Pois até o tempo nos roubaram
Tem nada não ...

Tínhamos habilidades parecidas
Como aquele enlace com a solidão
Contávamos bem os dias vazios

É bem provável que dele herdei esperança
E um certo gosto por História
E carne com caldo de feijão, e só
Paçoca, e a revista que tem uma página amarela

Aprendi também...
Alqueires tem variação dependendo de onde ele mora
Pro requeijão dar certo, a gente põe gota de limão
Daquele mais cheiroso, sabe?
Que banho frio demais, refresca.
Não devemos deixar de comer o que a gente gosta nunca
Mesmo que alguém tenha mandado.

Doce de leite (mesmo diet) é doce!
Pra sair se põe chapéu quando a pele é branca demais
Pra evitar as sardas
E jornal é sagrado.

Que nunca devemos nos abrir com estranhos, nem aqueles “meio” conhecidos
Que felicidade deveria se chamar domingo,
pois domingo é dia de gente da gente

Nos roubaram o tempo
Nos mostramos entre nós dois
Chegamos até a dar as mãos...
Sem choro nem vela
Conto o último conto
Dentro de todo meu suspiro de adeus!

Te vendo entre flores, que nem combinavam assim com você
Pensei que maior conforto te daria um colchão de marshmallows
Parece que nunca entenderam de nós.
A minha alegria está em saber
Que um dia já me vi em alguém!

Sente na ponta mais alta da nuvem vô, assim te verei mais vezes...
Até outro dia!

Amne

4 comentários:

Mayra disse...

Olá Amne, como sempre escrevendo belissimos textos.. amei .. parabéns.

thati disse...

Sinto muito pela sua perda!
Linda a homenagem, hein?
Beijo,
Thati

Vanessa disse...

:)...que lindo

Luna Blanca disse...

Da boca dos poetas mais amadores saem as palavras mais belas e puras,mesmo que poucas e curtas são palavras que gritam de um coraçã que ainda tem esperança.