6 de abril de 2009

Aqui jaz o restante do que não tinha.

Cortejo Fúnebre

Sigo de cabeça baixa atrás do cortejo
Me balançam tranquilamente enquanto
levito sobre o chão
Tão tola e tão crente!
...Rezo sobre meu corpo
Velando aquele último sono,
Passo a passo me aproximo do nada.

Sigo de cabeça baixa atrás do cortejo,
Saboreio com temor à areia em minha boca
E as asperezas das pétalas que jogam em meu caminho
Pétalas negras em sinal de luto.
Gritos silenciosos em sinal de respeito.
Dores insignificantes em sinal de descontinuidade.

Sigo de cabeça baixa atrás do cortejo
A última lágrima bate no chão demoradamente,
Limpando o caminho para os que vêem atrás
Todos vestidos de preto.Todos descalços.Todos em silêncio.
Apenas sigo de cabeça baixa atrás do cortejo...

O algodão travou no nó da garganta
Mesmo sua intenção sendo outra
O meu corpo enfim cinza!
O meu peito enfim costurado,
E o músculo quietinho, parado!

O sino balança
A fumaça o acompanha em sinal de devoção
O homem de chapéu preto canta em silêncio na frente
Muitas palavras de antes, mas que só brotaram agora.
Enquanto me balançam tranquilamente,
enquanto levito sobre o chão.

Dentro da cova me mexo imóvel, tamanha perplexidade
Com os atos de quem leva meu esquife dolorido
Que derrama sangue no chão...

Sigo de cabeça baixa atrás do cortejo, me olhando de longe
Cavo ferozmente tentando me enfiar na terra
Me escondo dentro do buraco bem fundo
bem mais que sete palmos do chão.
Parece ser meu último suspiro.

Descanso em paz?
Ou sigo chorando poeira?

Amne
foto: Site Olhares.com

Um comentário:

Anônimo disse...

necessario verificar:)