29 de julho de 2009

Meus retalhos coloridos


Um dia acordei fazendo mais uma colagem pra minha colcha de retalhos.Achei meio esquisito não encontrar mais os retalhos, revirei a casa toda na esperança de me achar.
Armários, criado mudo , gavetas...acabei por fazer a maior bagunça.Pensando fiquei, quais eram as cores dos retalhos que perdi, por onde andavam?
Sem respostas sentei ali com papéis e recordações nas mãos, rindo e chorando da métrica da vida, ou a falta desta.Achei um desenho sem chão, achei meio poema falido e achei até uma presilha de madeira , destas que nem se fazem mais.Achei muitas caixinhas que passei anos armazenando passado.Mas conforme significados apareciam, ainda me doía a falta dos meus retalhos.
Desisti da bagunça sem explicação, e entendi o porque de tantos papéis...lembrei do Carpinejar que diz “Meu maior medo é escrever para não pensar”.Pena que a gente só se dá conta pensando...o pensamento em geral gera alguma cicatriz engasgativa, mas necessária muitas vezes. E no final existe anestésico,analgésico...qualquer merda que freie todo os resto.No fim daquele dia eu estava com uma feridona descascada, doendo...e sem meus retalhos.Mas , com um punhado de caixinhas e pensamentos claros.Dizem que muitas vezes acontecem coisas ruins, para que possamos enxergar as boas, a minha inconformidade com o “causo”, estava justamente aí: o por que de em algo bom, eu tinha enxergado tanta coisa...
Onde estavam os retalhos do período?Como morrer sem ir pra debaixo da terra?Lá teriam os vermes, morrer vivo é praticamente morrer só.Percebi enfim Gabriel Garcia Marquez dizendo que “a vida é uma sucessão contínua de oportunidades”.
Fiquei pensando na minha.Imaginando quem eu seria com outra história de vida.Com outra vida...se tivessem me ensinado algo, o principal que eu gostaria de ter aprendido era como aproveitar as oportunidades da melhor forma possível.Queria que alguém tivesse me ensinado à ser mais sábia, e menos ingênua.Queria ter percorrido a vida com um ganho maior de sabedoria, para hoje ser uma versão melhorada de mim.
Tenho feito, em minha busca pelos retalhos perdidos, uma escalada térrea dentro do meu corpo,e em minha memória.Tenho jogado tanta coisa inútil fora. É estranho pensar que já possuíram valia!
É esquisito pensar em nossa capacidade de se transformar, adaptar e absorver.Mas, o que mais me assusta é nossa capacidade de sentir.
Pensei nos retalhos hoje, como pessoas que passaram por mim...suas cores e tons.Suas vozes, sorrisos, lágrimas...pensei ...
Temos uma capacidade meio mórbida também de aniquilar com lembranças,mas estes retalhos nunca se desprendem de nós!Lembrei de outro texto do Carpinejar que fala assim “Uma relação nem sempre termina porque não é feliz.Às vezes termina para preservar a felicidade da memória”.
Observando o mundo e os meus armários hoje, eu vi que o lance é saber separar os retalhos por sua escala de cores, os que sobram podem virar divertidas mantas que nos aquecem no frio.
Acho que é isso...
Amne

Obra: Peter Blake

Um comentário:

Denizia disse...

maravilha prima,
lindo, interessante, verdadeiro. parabens, linda.bjs