21 de novembro de 2009

Raio X


"São Paulo ..."
Agora são 20:17, de 21 de novembro de 2009, acabo de chegar ...
Eu em minhas andanças e observações do cotidiano.
São Paulo, um mundo em cada esquina.
Hoje eu e a chuva mais uma vez...
E aconteceu tanta coisa, coisas que quase ninguém viu.
Trânsito, eu na poltrona dentro do ônibus na marginal, eu lia a National Geografic que este mês fala das múmias de animais dos faraós, parecia ser bom ser bicho lá...gato então...Mas deixa eu chegar ao ponto.
O ponto era um viaduto que me olhava enquanto eu olhava pra ele...ali, parada no trânsito, trânsito de São Paulo...
Na parte interna, quase no escuro da escuridão da parede do viaduto, eu li
“ O mundo sobrevive por um fio”.
Eu mastiguei meu riso, o senhor ao meu lado correspondeu meu sorriso meio confuso. Mas pasmem, ele compreendeu e soltou : “O mundo está tão diferente, quando eu era criança, a gente danava de esperar a hora do lanche na escola...tinha arroz doce.”
E o papo rolou solto em pequenitudes, com aquele senhor que tinha nas mãos tão simples e cansadas, sabedorias organizadas pra me contar...
Nos despedimos na loucura da estação e suas variantes...
Entrei no metrô, fone no ouvido alto...jeans, camiseta Hering e meu bom e velho tênis. Na próxima estação entrou uma senhora com três pequeninas meninas lindas, cor de carvão, a mãe anunciava com métrica toda sua peregrinação por um pão, em seu discurso ensaiado não via a humilhação nos olhos das próprias filhas.
Sai na escada que emerge pra Secretária do Estado da Educação, com sua pompa e arquitetura esfuziante, na praça da república ( que pra quem não sabe, é no centro da cidade de São Paulo). Já na cabeceira da escada rolante, um pequenino menino( alto pra sua pequenitude vinda de uns 8 anos), segurava nos ombros uma caixa de isopor.
Menino lindo, com olhos grandes e pés em sandálias herdadas...
Não me contive, e sorri.
Ele retribuiu o riso, disse: “ Quer comprar coca-cola tia?”
...respondi com lágrimas no coração : “ coca eu não quero...que você vende aí?”, ele disse tantas palavras, que pra mim, aquele menino poderia facilmente com sua eloqüência, ser marqueteiro do governo.
Eu meio atordoada pela situação do pequeno disse: “Queria uma balinha...não tem?”
Surpreendentemente ele colocou a caixa no vão das pernas no chão, deixou sua profissão por cerca de 3 ou 4 segundos...colocou a mãozinha no bolso, retirando duas balas e um chiclete, e disse:
“ Eu ganhei ...quer um? ”
São Paulo.
Ganhei bala de um ser que tinha tanto pra ofertar...se as pessoas soubessem...
Dia cansativo, cidade da chuva e da dificuldade de se comprar um enrolado com um pingado pra almoçar...
Muito cansada do dia, voltei pelo mesmo caminho.
Vi uma mãe batendo em uma menininha, que se debatia no chão por qualquer motivo normal de criança.
Vi um casal apaixonado parando na chuva pra se beijar.
Tanta coisa...
No ônibus, eu e meu fone...presos na Cruzeiro do Sul.
Como não podia ser diferente eu comecei a contar as gotículas que batiam no vidro, dispersa e alienada com minhas lembranças.Olhei pra fora, o homem sujo deitado no chão debaixo da marquise, roupa rasgada e cabelo ermitão ...lia Dom Casmurro.
São Paulo!
Emocionante...
Amne


Imagem : Boca de lobo em São Paulo

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