
"O que mais me assombra nos seres,
é que mesmo perante as adversidades se fazem cegos!"
Amne
Obra-René Magritte
O mundo ficou pequeno
O giro que antes demorava,
eu consegui entre o abrir e fechar
da pálpebra.
Sangrei com os espinhos
e chorei baixinho
quase em silêncio,
continuei descalça sobre o quente do chão
A lua até caiu do céu
(ou será que ela se jogou?)
No meu sertão brotou foi lágrima
que umideceu um sonho.
Em um tempo em que não se viveu
e talvez nem existiu...com uma falta
de asas absurda.
onde tudo pareceu impossível.
Ando aprendendo à rezar.
já que todo o canto se foi...
e a noite chegou sem pressa aqui dentro da minha vida.
dentro da minha colcha,casca protetora
ansiosa com meu mundo imaginário!
triste com tanta luz sobre o tecido...
presa vou com o desinteresse humano
pensando em me jogar do mundo...
Amne
Só uma menina que eu conheço.
Eu conheço uma menina
Que de tão doce andou fazendo doçuras
Que tão pequena andou sendo grande
Que agora acha que merece...
Que de tão triste fabricou lágrimas que se transformaram em chuva
Que não tem certeza de nada
Que tem medo de tudo!
( inclusive dos pormenores)
Que adora achar desenhos nas nuvens
Sem mencionar os doces de maracujá
E brigadeiro de panela , o
Cheiro de canela ...daquele bolinho que o menino tanto almeja quando chove
Que agora faz borboletas dançarem em estômagos por aí
E nem toca mais no chão quando anda
Que adora caixinhas para poder guardar sonhos
Que ama o lápis número dois da Faber
Que acorda de mal humor ( mas ele vira sorriso em seguida)
Que adora delicadezas e carinhos
Que é rabugenta e sistemática, porque o caderno tem um padrão!
Que gosta de gente estranha
E tardes ensolaradas
(sem falar do vento...ah o vento...)
Que canta sem saber a letra
Que dança mesmo caindo às vezes
Que adora hora certa e local combinado
Que prefere não crescer por medo da dor
Que não aprendeu como ser “gente normal”
Que adora pintar os olhos e as unhas do pé
Que lê Quintana como parte da família
Que ri sem ter motivo
(Ficando vermelha depois...)
Que adora joaninha
E morder pés que ainda não cresceram
Que não gosta de quiabo
Nem de bananada...
Que se preocupa com o futuro
( do planeta também ...sem falar nos seres)
Que não se parece com nada, e provavelmente nem se parece com ninguém
E tem medo do “monstro” barata e suas antenas
Que procura tatu bola
E gosta de sorvete de limão
Que briga em palanques
(mesmo sem saber a motivação)
Que se indigna com pouco
E não tolera injustiças!
Que se esquece de tudo
Mas carrega pessoas no bolso
Que odeia a louça na pia, mas adora brinquedo no chão
Que não sabe passar roupa
Que explode bolos,
Mas faz um “menino” como ninguém
Que se perde dentro dela toda hora
Que tem problemas com nomes e datas
( sem falar nos botões)
Que adora desenho animado
E ri muito cada vez que o “pica pau” sobe no “pé de pano”
Que é criança por opção, menina por dedicação e mulher por necessidade
Que não sabe onde é o norte
Mas anda se equilibrando no meio fio
Que odeia tanto...
E que as vezes ama também
Eu conheço uma menina que se "pinica" até nas pétalas das flores
E que é capaz de furar pessoas com um único olhar
Que não gosta do errado!
Que gosta de cheiro bom
E de toque macio.
Que cresceu para dentro e coleciona amigos.
Que confia muito pouco
E mesmo assim se entrega em tudo
Como a entrega dos “mortos”
Que roeu unhas por ansiedade
E pintou a boca por vaidade
Eu conheço uma menina que
também pode ser personagem de filme
Aquele de lata...porque nesta menina às vezes mora o vazio
( mesmo um vazio tão cheio)
Eu conheço uma menina ...
que quase não cabe mais dentro dela,
Que dobra a alma todo dia para que caiba no corpo!
( e pretende aprender à voar...)
Amne
O dia que o amor não me quis.
Sabe quando você leva aquele tapa da vida?
Acorda!!!
(Ela grita em sua cabeça, batendo na tua cara...)
Fiquei voltando para meu recheio.
Abri um pedacinho daquilo que costuma me proteger,
coloquei a cabeça para fora,um pedaço da alma também
e lá veio a vida com seus pontapés e utopias.
Fechei bem rápido.
Que susto!
Voltei para cá...falta coragem.
"No dia que o amor não me quis".
Agora reforcei à porta.
Talvez eu nem saia mais,
mas o provável é que ninguém mais entre!
Amne
Terra de malucos X Terra de heróis
Terra de malucos
Quando todos nós teremos ética?De forma plena, abrangente e bruscamente verdadeira?Teremos que nos melhorar muito, até que sejamos um pouquinho aceitáveis...Teremos que aceitar mais, perdoar mais, punir mais, redimir mais e assim talvez sejamos mais !Mas é tudo relativo, visto do ponto de vista contemporâneo, não acha?Antes o assassino era o herói e nós apenas plebeus observadores, não criticávamos, apenas povoando o mundo...Mundo dos dinossauros, cheios de ética perpetuando a espécie numa real matança, do maior para o menor... afinal pudor é apenas para nós que possuímos primos, até que enfim vieram gigantescos meteoros. E quem somos nós então e a ética?Certeza é que a maçã cai, se não caímos nós.Aí amanhece, crianças morrendo á ter abutres roendo carcaças, e nós ?Aquecendo ao sol cheios de nossas temperaturas com cremes , gordura e luxúria parcialmente sustentáveis .Ficar de pé, este sim seguramente foi um ato cheio de ética e petulância, usar a máquina de Deus cheio de aspirações, ajeitar até a mínima anatomia da coluna. Ética para motivar os incapazes de rabo, que acreditem ou não, ainda temos quando queremos descansar por falta de nossa ética diária.Ética ?Respirar é o oposto da ética, afinal o ar não está sujo?Está! Não está?A chuva hoje fura até os carros, e olha que foi dela que brotamos...vai entender o ciclo maluco, órfão de ética.Comida , água , nós e a ética.Dois mil anos e ainda tem gente chorando sobre o pó santo, precisamos levar ética para eles!Mas antes vamos operar nossos depósitos de alimento, semidigerido , cavidade, elo de ligação entre a vida e a própria morte, ou pularemos sobre mais uma cabeça , crânio, membro superior ali na calçada , alma que se encheu de ética e voltou a ser normalmente bicho,voltou a andar descalço , pêlos,cabelos,alimento escasso,cama de pedra e liberdade.Liberdade que nos fez povoar continentes, desbravando bárbaros .Vomitemos toda esta ética engasgativa, que nos forma uma forma de felicidade...trocada ,imposta,impune, nojenta de gente sem ética!Para que serve planeta sobrando, se eu nem posso roubar um para dançar descalça ?Do contrário queimo meus pezinhos pequenos e pesados como a cruz que ele carregou nos ombros.Porque provavelmente possuía ética em demasia.Se nem a eternidade restará para a ética, o que será de nós, senão o pó?Banais ,vis e inacreditáveis nos tornamos feios, para então assim não ter ética ,tendo consciência de nossa chacina multiplanetária !Quero mesmo um tom verde, como as folhas pensativas que digerem até Lixo,poluição,escuridão...Planta?Serei astronauta solitária em minhas loucuras verdadeiramente reais, cheias do vazio da ética!Cheia de sonhos com alguns amanhãs nesta terra de malucos.
Amne